Quem banca as festas de posse de Trump? Empresas e lobistas com muito em jogo

Empresas de setores que estavam extremamente relutantes em aceitar Donald Trump durante a campanha presidencial finalmente começaram a abrir os talões de cheque para patrocinar as comemorações da chegada do presidente eleito à Casa Branca, em Washington D.C.

As empresas que dependem enormemente dos mais importantes itens da agenda política que será discutida nos próximos quatro anos fizeram fila para patrocinar o enorme desfile de aperitivos e bebida liberada nas festas por toda a cidade.

Os nomes mais frequentes na lista de patrocinadores do evento são de empresas com interesses na área farmacêutica, de petróleo e de defesa — setores altamente regulados, que têm muito em jogo nas discussões por vir sobre políticas de preço de medicamentos, regulações ambientais e orçamento de defesa.

Diversos eventos listam as empresas de compartilhamento de carona Lyft e Uber como parceiras no setor de transporte especial. As duas empresas enfrentam obstáculos regulatórios para acessar os mercados municipais e têm interesse em obter aprovação para carros automáticos de última geração que dispensam motoristas.

Grupos de lobistas também se encontram nas listas de patrocinadores de diversos bailes. O DCI Group, uma prestadora de serviços de lobby que representa a Verizon e a Exxon Mobil, está ajudando a patrocinar uma festa para a delegação de Iowa que inclui o governador Terry Branstad, indicado por Trump para ficar à frente da embaixada na China.

O Inaugural Heartland Ball, festa que conta com pelo menos 35 representantes de Illinois, Missouri, Ohio e Wisconsin no Congresso, é patrocinado pela Abbott Laboratories, uma importante empresa do setor farmacêutico, e pela Motorola Solutions, que presta serviços na área de segurança. Cada uma contribuiu com US$ 25 mil. As empresas do setor agrícola ADM, Monsanto e CME Group, uma bolsa privada que negocia colheitas futuras, pagarão US$ 15 mil cada.

O Black Tie & Boots Inaugural Ball, festa dos legisladores do Texas no Resort Nacional Gaylord, próximo a Washington, é patrocinado por diversas empresas da área de petróleo, incluindo Chevron, Exxon Mobil, Koch Industries, Anadarko, Phillips 66, Valero, BP, Koch Industries e o American Petroleum Institute (Instituto Americano de Petróleo), um grupo lobista do setor.

O baile da Indiana State Society (Sociedade do Estado de Indiana), co-presidido por Karen Pence, esposa do vice-presidente eleito, Mike Pence, deve ocorrer no Hotel Grand Hyatt Washington. O principal patrocinador é a Anthem, uma das maiores seguradoras de saúde dos EUA que vem acompanhando de perto os esforços pela revogação do Lei de Saúde Acessível. Outros patrocinadores incluem BP America, Coca-Cola, Duke Energy, Ford, Honda, Honeywell e Peabody Energy, uma grande empresa do setor de carvão que se prepara para sair da falência. Os patrocinadores do evento têm a oportunidade de conversar com os VIPs que comparecerem ao baile, incluindo aqueles próximos ao novo governo.

O governador de Nova Jersey, Chris Christie, deve comparecer ao Garden State Inaugural Gala, que também acontece na mesma noite. O evento é descrito como uma chance de socializar com legisladores federais e estaduais, além de outros políticos, enquanto desfruta-se de um parque de diversões clássico na “Zona de Diversão”.

Os maiores doadores do evento são as empresas do setor farmacêutico Bristol-Myers Squibb, Novo Nordisk, Mallinckrodt Pharmaceuticals e Prudential. Na quarta-feira (18), a Mallinckrodt concordou em pagar US$ 100 milhões em um acordo que encerrou uma investigação federal sobre a violação de leis antitruste por parte de uma de suas subsidiárias. Outras empresas do setor farmacêutico observaram com preocupação Trump reafirmar sua promessa de campanha na semana passada de combater a alta de preços de remédios, o que ocorreu ao mesmo tempo que democratas progressistas defendiam o mesmo ponto em Capitol Hill.

Documentos obtidos pelo Centro de Integridade Pública dos EUA mostram que os doadores de outros eventos oficiais de posse recebem oportunidades especiais de conhecer os membros do novo governo. Os doadores que contribuem com US$ 1 milhão ou mais recebem um convite para um “almoço de lideranças” especial com “líderes da Câmara e do Senado e alguns indicados ao Gabinete”. Além disso, recebem um convite especial para jantar com o vice-presidente eleito, Mike Pence, e com as “damas das famílias presidenciais”.

A lista de doadores das festas de posse oficiais de Trump ainda não foi divulgada, mas o New York Times informou que a Boeing e a Chevron estão entre as empresas que se comprometeram a contribuir com altas quantias para o comitê de anfitriões.

“Essas contribuições não podem ser vistas como mero apoio patriótico à Presidência ou como caridade, doações cívicas. Devem ser interpretadas dentro do contexto da política do pagar-para-jogar de nosso sistema político”, escreveu Robert Weissman, presidente da Public Citizen (grupo defensor dos direitos do consumidor nos EUA), em uma declaração que lista os interesses de cada uma das empresas nas mais importantes políticas públicas federais. “Parece que a cultura de pagar-para-jogar vai piorar muito antes de começar a melhorar.”

Empresas com interesses especiais também patrocinaram as comemorações de posse de Bill Clinton, George Bush e Barack Obama. Nas comemorações da posse de Donald Trump, candidato que baseou grande parte de sua campanha na “drenagem do pântano” e no combate ao establishment político, pouco parece ter mudado.

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